RAMIRO S. OSÓRIO - POÈME GROS
POÈME GROS
EU RECORDO: A JANELA ABERTA, MEU PENSAMENTO DE TI
O CAMPO VERDE DE MAIO E O MEU FATO DE BANHO VERDE NOVO
RECORDO UM CERTO PONTO DE FILOSOFIA
O TEJO
UMAS OPERÁRIAS, DOIS TELEFONEMAS SEGUIDOS
SEGUIDOS DE VÁRIAS TARDES
SETE DIAS - UMA ORQUÍDEA
DUAS LARANJAS E UMAS COSTAS QUEIMADAS.
UM ANO DEPOIS, EU TENHO:
A JANELA ABERTA, MEU PENSAMENTO DE TI
O CAMPO DE MAIO E O MEU FATO DE BANHO VERDE VELHO
NÃO TENHO PONTOS DE FILOSOFIA
NEM AS COSTAS QUEIMADAS NEM NADA
EU QUERIA TER: A JANELA ABERTA, MEU PENSAMENTO DE TI
O CAMPO VERDE DE MAIO E O MEU FATO DE BANHO VERDE NOVO
QUERIA TER VÁRIAS TARDES; UMAS COSTAS QUEIMADAS E DUAS LARANJAS.
EU TEREI O QUE RECORDO? TENHO SE NÃO NÃO RECORDAVA.
QUE TEREI MAIS?
QUERO TER RECORDAÇÃO E FUTURO EMARANHADOS
E QUERO TAMBÉM VER OS JARDINS DA NOITE CONTIGO
E VER NELES MORRER WILLY LOMAN
NUMA INTERPRETAÇÃO EXQUISE
JARDINS DA NOITE OU JARDINS DO DIA COM CAMPO VERDE DE MAIO
VERDE DE 17 ANOS MAS NUNCA DE 18 PORQUE OS TENHO.
A LUA NASCE ATRÁS DOS CIPRESTES
E LINDA LOMAN DIZ QUE NÃO PODE CHORAR WILLY
NÓS APLAUDIMOS E TOMAMOS UM GELADO
MORREREMOS MAIS TARDE
SEM TER FEITO MAIS QUE TOMAR GELADOS E APLAUDIR OU PATEAR
MORREREMOS
E TALVEZ VÃO DIZER AO NOSSO CEMITÉRIO QUE NÃO NOS PODEM CHORAR
E ENTÃO NÃO APLAUDIMOS.
VAMOS USAR SEMPRE FATOS DE BANHO VERDES
E FAZERMOS COMO SE
COMO SE NÃO DEVÊSSEMOS FAZER MAIS NADA
COMO SE DEVÊSSEMOS SÓ USAR FATOS DE BANHO VERDES
COMO SE ESTIVÉSSEMOS CONTENTES E APAIXONADOS
E SOUBÉSSEMOS POR QUE VIVEMOS
COMO SE O TELEFONE NUNCA TOCASSE QUANDO NÃO DEVE
COMO SE O TELEFONE SOUBESSE O QUE DEVE
ASSIM COMO NÓS NÃO SABEMOS
ADEUS WILLY LOMAN
ADEUS TU
ADEUS EU
ADEUS COMO SE
NÃO NOS VÍSSEMOS AMANHÃ
NEM NO TERRÍVEL JUÍZO FINAL
CONTUDO MELHOR QUE O CORRECCIONAL
COMO SE SOUBESSEM CORRIGIR-NOS!
COMO SE HOUVESSE CORRECÇÃO!
SÓ HÁ CIPRESTES E LUA
E LINDA LOMAN A NÃO CHORAR
SÓ HÁ A MINHA JANELA ABERTA E TU;
E O TELEFONE A TOCAR
-ENTÃO?... E O MEU POEMA DE HOJE?
- AINDA NÃO O ACABEI. ESTAVA NUMA FRASE ASSIM:
“A MINHA JANELA ABERTA E TU”
-ENTÃO TELEFONA DEPOIS...
(Maio 1958 - Série “Poemas para Minou”)