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GAZETA DE POESIA INÉDITA

Espaço dedicado à divulgação de poesia original e inédita em língua portuguesa.

GAZETA DE POESIA INÉDITA

10
Jun18

EDUARDO QUINA - [CONTRA MUNDUM]

«a memória é o degrau em que a morte hesita»
José Rui Teixeira


a construção da infância ou
a sinuosidade litúrgica do silêncio:
os odores disformes na recôndita luz
distendida sobre o tédio da noite. 

perscrutávamos o real demoníaco das mulheres
para podermos compreender o tumulto
das suas sombras: teciam, de joelhos, deus e a morte
esvaziando o medo e a memória no inútil exercício da poesia.

nada sabíamos sobre o mistério da salvação:
o deus em que depositáramos uma parte do corpo
nada sabia de almas.

os corpos cresciam amedrontados:
agónicos, dentro da luz.

a fé abria-se à solidão
e os imponderáveis anjos ou
outros subalternos artefactos do divino
guardavam-nos os segredos.

éramos inacessíveis:
elegantes seres à semelhança de outras imagens sem rosto.

fingíamos o empenho nas artes do assombro
para nomear o metálico som do temor
que dissecava as palavras do anjo de mármore.

éramos um incêndio à espera de um milagre
em que exorcizássemos o diáfano corpo inconfessável.

vinculávamos as ilusões através do sangue hesitante,
intranquilo, da nossa finitude contra o inferno e a sua decifração.

éramos inverosímeis na nossa crueldade cintilante.

ampliávamos o silêncio até adormecermos
na cobarde obsessão pelo sangue ou
o extermínio pela inocência.


[ao José Rui Teixeira]

 

 

 

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