18
Mar19
LAÍS ARARUNA DE AQUINO - DEUS OU A FALTA DA LÍNGUA
o que resta da língua
a cada vez que falamos
é a sua falta
um nome não basta
um nome chega demasiado
tarde ao mundo
e não pousa como
um pássaro ao ramo
de uma árvore
de tudo o que falamos
o que nos pertence
é o silêncio –
este desnível no
horizonte do tempo
como quando topamos
com um nome e se
lhe esfuma o torso
ou quando na duração
fendemos o instante
porque estamos no mundo
e nos foi dado acima da voz
o nosso imperfeito silêncio
– escarpa aberta
no coração da língua –,
não estamos dados
ao lado de coisas,
estamos na espessura
de uma falta
que nos fala
e esta fala
é Deus