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Ago19
BEATRIZ DE ALMEIDA RODRIGUES - YNGRES NA CAMA
com as ancas adornadas por plumas negras
com uma nudez exultante e pura
como num quadro renascentista
Quero dar prazer a todos os homens
Cada homem é a queda do paraíso
e já não sei ver sem a vertigem
Quase cego ardo de luz e delito
e corro freneticamente pelas colinas
arrancando as penas a cada ave que encontro
Como poderia saborear as delícias do amor
de outro modo
sem destilar o fel dos padres em êxtase
e inventar a humanidade com os restos
da minha saliva
O teu orgasmo é uma flor de vários séculos
que me coroa de triunfo
E, contudo, ocultas o teu rosto
voltado num suspiro para uma paisagem que não vejo
Não digas isso
Eu sei que não o disseste
mas é como se o tivesses dito
Por fastio cravas-me as unhas na carne
até que sangre
(para minha satisfação)
Negas-me
Revisito-te
Sacio o meu apetite no teu enjoo
glorifico-me no teu imenso cansaço
mas não fui eu quem
te furtou o ânimo
e o trocou por um ganso
Prometo que não
Eu sei que desconfias de mim,
diz Yngres, na cama, limpando
o esperma ressequido do canto dos lábios,
e nisso talvez tenhas razão
Deleitado ri-se
enquanto Dalila e Judite lhe escovam
os esplêndidos cabelos