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Set19
FRANCISCO JOSÉ VIEGAS - A NOITE E O RISO
Gostar do teu riso. Como ele persegue
as coisas sem nome e lhes empresta
gravidade, como naquela tarde
na Foz do Douro, entre folhas
arrastadas pelo vento, um farol,
palmeiras, imprudências e até
uma gripe fora de tempo. Não foi
em vão que amei o teu riso, a forma
como a voz parece mais exausta
ou grave depois de tudo o que viveste
e eu errei; é este o sentido das coisas,
ou tanto o sentido que elas têm:
o teu riso percorre a noite, e a noite
não tem fim depois de ter começado.