17
Jan19
MARÍLIA MIRANDA LOPES - AFFAIR
É fria aqui a casa: pés
gelados como sempre os tenho,
mãos fugidias, preocupadas
em transmissões de algum afecto:
podia amar tanto, sem espadas.
Permitissem as voluptuosas
setas de suaves querubins
e já poderia ser do mundo:
nascer lótus branco nos lagos,
estátua brônzea nos seus jardins.
Se o firmamento ali me visse,
e não nesta tarde chuvosa,
acender-se-ia em mim o Rosto,
acalentando-me algum lume,
em fogo-fátuo ou fogo a gosto.
Não. Deixa-me estar, ó Sequência,
a escrever, quieta, sobre o Pathos.
Passeando o olhar pelas paredes,
vislumbrarei nelas a Hybris
que é navegar no real sem redes.
Real que me não deixa, então, ir
sozinha à praia das perguntas,
sem nenhuma, porém, fazer;
Hybris que, sendo certa, é louca,
como aqui o quarto, e este affair.