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Jun20
ANTÓNIO AUGUSTO MENANO - OS TOUROS TRAZEM OS CORNOS A ARDER
1
Os touros trazem os cornos a arder,
Abrem caminho, o ar
Aquece-se, à espera;
Cerca-nos os desejos
O som, coro de mil silêncios.
Sobre as falésias vibram
Guturais apelos,
À espera de voarem.
Circula o arco lacado
De ressonâncias prestes a arremessarem,
Contra as muralhas,
O grito.
Os corpos, tensos,
Encolhem os músculos,
Talhas onde o vinho
Envelhece devagar,
São imagens ao cair do dia,
O sol ainda aquece o branco da cal.
Nêsperas amadurecem
Nos ramos retorcidos,
Há um vazio efémero,
Momento em que adormecem os desejos,
As dores, as mais voluptuosas sensações,
Frescas relvas a crescerem.
2
Sento-me debaixo de traves
Carcomidas pelos anos,
Polidas pelo vento,
Sonho com touros de cabeça de palha,
A arderem,
Iluminadas.
Serei viajante cansado,
No corpo
Prendem-se desejos,
Purpurinas carnais,
Setentrionais bússolas, avariadas pelos anos.
3
Os touros têm os cornos a arder,
Arremessam-se contra
A pedra,
Sangues calados, à espera de arbustos
Agitados pelo vento.
Frio, frondas de guerras esquecidas,
De dizeres ditos
Quando o dia esconde
A dor mais secreta
Que nos faz rir.
Quem de lado vê o horizonte confunde caminhos,
Recolhe seixos pela praia.
A boca come as palavras
Os touros trazem os cornos a arder,
Avançam pela noite,
Abrem o ar, o caminho aquece,
Cercam nos desejos,
O som rouco das gaivotas
Abrem caminhos.
Sobre a falésia vibram
Guturais apelos, animais
À espera de voos;
Circula o som, ressonâncias de lides
Antes da tempestade, prestes
A arremessarem os corpos
Contra as muralhas.
Os corpos, tensos, encolhem
Os músculos,
Talhas onde o vinho
Envelhece devagar.
Imagens ao cair do dia,
O sol aquece ainda
O branco da cal.
Nêsperas nos ramos retorcidos
Amadurecem.
Há um vazio, efémero momento
Em os desejos adormecem;
As dores,
As mais voluptuosas sensações
A crescerem.
Sento-me debaixo de traves
Carcomidas pelos anos,
Sonho com touros de cabeças a arderem,
Palhas iluminadas pelo fogo.
Serei viajante cansado a recordar Spartacus,
Os corpos bebem a música, grades prendem os desejos,
Purpurinas carnais,
Setentrionais bússolas
Avariadas pelos anos.
Quem de lado vê o horizonte
Confunde caminhos,
Recolhe seixos rolados
Na praia onde o chá arrefece.
4
Os touros têm os cornos a arder,
Arremessam-se contra a pedra,
Sangues calados, à espera
De arbustos agitados pelo vento frio,
Frondas de guerras esquecidas,
De dizeres ditos
Quando o dia esconde
A dor mais secreta,
Que nos faz rir.
A boca come as palavras,
No cerrar dos olhos.
No cerrar das pálpebras.
Senhora da Rocha, 29 de Março - Buarcos, 25 de Maio de 2009