03
Fev20
BEATRIZ DE ALMEIDA RODRIGUES - TROFÉUS DE GUERRA
Mais uma vez te acercas para beijares os meus demónios
Atrás de ti um rastro de pétalas pisadas
uma civilização inteira caída em ruína
espoliada pelos bárbaros entre os quais dançaste
em júbilo avassalador em ritos incendiários
aos quais prometeste solenemente as tranças
até sobrar apenas esta esparsa coroa de flores
destinada à fronte do exilado
Aproximas-te sozinha e louca
com o escalpe lavado pela chuva
apedrejo-te
comove-me a tua piedade
a oferenda da tua carne aos animais da noite
a encenação de catástrofes antigas no teu corpo
mais por tédio do que por inocência
por abandono do que por piedade
comove-me e enoja-me
a beleza corrupta dos teus gestos
apedrejo-te sabendo
que levarás à boca os dedos ensanguentados
que o teu escalpe permanecerá limpo
Quando te acercas não há que te possa dar
senão os meus demónios
não vens senão por eles
Triunfante ergues o olhar
enquanto exaurido ascendo.