D. H. MACHADO - A ADORAÇÃO DA TERRA
eu demiurgo artífice espírito que ostenta o exício
forjado na ira das chamas que só o averno conhece
eu sou a hora última que antecede o fim e o início
condenado ao cenáculo onde a ordem surde e fenece
os sinos repicam em uníssono o rigor da noite eterna
ouvem-se os cascos que quebram e são quebrados
as vozes que marcam passo na barca que aderna
e o ranger do globo que a virtude purga em vis brados
este é o tempo do assassino que susta o dogma
que subtrai às carnes soberbas o orgulho pueril
os mortos petrificados em cruel e erecta redoma
elevam-se da terra nua quais anjos de porte heril
mas estes que caminham cegos de tez incerta
são os arcanjos que habitam a noite deserta