22
Ago18
DANIELLE MAGALHÃES - NASCID_S NOS ANOS 90
todos os meus amigos estão tendo crise de ansiedade
o caio foi parar na emergência
a ana está com psoríase na perna
a camila não para de andar
de um lado pro outro
dentro de casa
o corpo vai ficando todo
dormente ela diz que sente dor
depois vai parando de sentir
os dedos os lábios o
corpo a nati diz que nunca teve
mas diz que tem
outros transtornos possíveis
a bela tá sempre feliz
a bela não diz
mas um dia a bela
escreveu não vou sair porque
suor chorar dormir
três pontinhos
a bela diz
a mariana perde a fome
e eu não paro de comer
e de beber tudo anda caindo
menos o capital
obrigada por sempre deixar
a jujuba vermelha para mim
virou o meu modo de dizer
eu te amo meu estômago
vive eternamente em um pós-guerra
o mundo tá chato pra caramba
e todos vivemos tocando
a rolagem do teclado
como se estivéssemos
fazendo gozar
todas as bucetas do mundo
só que não
só estamos olhando
a nossa linha do tempo
como se uma coisa muito importante
fosse acontecer a qualquer momento
umas quatro crianças estão para nascer
os 23 manifestantes foram condenados
foi sentenciado
há tudo de novo no front
e mais nada nas mãos
o caio segura o peito
como se fosse enfartar
na foto ele ri ao mesmo tempo
a câmera do celular não sabe
que essa será a fotografia da minha geração
no exame a médica me diz
seu nervo tem uma cicatriz antiga
doutora eu nem sabia
que nervo tinha cicatriz
agora eu sei que ela começou
antes do tal do Baudelaire
chamar a modernidade
de reservatório de eletricidade
o que pulsa hoje doutora
não é o nervo
é a cicatriz atravessada na linha
de todas as nossas jugulares