EMÍLIO MIRANDA - INCÓGNITA(S)
Sobre a areia distinguem-se passos, mas como saber os que carregam fracassos?
Serão os mais fundos, os mais arrastados ou os mais hesitantes?
Os apenas os que seguem descalços?
Como perceber num rosto distante, se são tristezas o que pensa, se são alegrias?
Ou que demónios lhe atormentam os dias?
Incógnita (s) - 2
Como saber pelo tamanho de um peito a dimensão do coração que vai dentro?
E dentro de um coração pequeno se há mais luz ou mais trevas?
Mais fé ou reservas?
Mais medo?
Um maior Segredo?
Mais amor?
Mais dor?
E um rosto bonito, também é bonito por dentro?
O exterior é apenas retrato ou é radiografia?
A alma aparece na fotografia?
Queima ou alumia o negativo?
E uma voz doce adoça a alma de quem ouve, ou apenas o ouvido?
Incógnita (s) – 3
Uma arma é mais perigosa na mão ou no coração?
É mais assassino quem mata ou quem manda matar?
Mais ladrão quem rouba ou manda roubar?
A lei pune ou vinga?
Ou não quer saber?
E o juiz que julga?
Como pode julgar sem ser julgado?
Vale mais a chuva toda do que uma pinga?
O oceano do que uma gota?
O teu sorriso ou o meu?
O céu ou a terra?
E quem faz a guerra
É culpado?
Ou mata porque é mandado?
Como saber onde a culpa
É inocente
E se a inocência
Também pode ser conivente?