01
Jul18
JOSÉ MANUEL TEIXEIRA DA SILVA - JOÃO CABRAL NO CONSULADO DO PORTO
Há-de haver um poema sobre desatenções
e diversas faltas de amor, mas acreditem
sou alheio a esse facto
À falta de outra palavra
direi que nem sequer estou triste
porque apenas vejo o que vejo
Ergue-se, é certo, uma muralha e o nevoeiro
coroando as torres de imaginação
e poderia ao menos registar a poeira ferrujenta
e endurecida, súbitos vapores do lirismo
Desta vez de nada tomei posse
estão impecáveis os cadernos, as réguas
e os carimbos, cuido só das cortinas, dedicada
cegueira à luz que se perde no granito
Em pura verdade, volto o olhar
às extensões da Andaluzia, assaltam-me
recados urgentes do Recife, e nem esqueço
a minha ausência, dia após dia
a iluminar uma casa do Rio de Janeiro
Tudo expliquei com o justo exemplo
da faca, dispenso os dois gumes
as armas brancas em demasia
Quase nunca abro a porta que fizeram
os artesãos desta cidade, muito agradeço
tão boa madeira, deixa-me à distância de
soluços, catarros, gritaria solta do lugar
quando, de hora a hora, ofereço
o que tenho de melhor, um tal silêncio
e olhos que calhou estarem fechados