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Dez18
JOSÉ MIGUEL BRAGA - SÓ MAIS UMA CERVEJA
Não procures conhecer as estrelas
Ou desenhar o céu e a cidade
Pensa que tudo é cor
E que a verdade é impossível
Houve um tempo
Em que olhar o céu sobre a praia
Tinha o encanto de uma reunião
E esse tempo deixou a pequena lembrança…
Era então possível viver de quase nada
E em cada imagem havia um propósito em repouso
Um desenho à beira mar
Não precisávamos de nada para falar do silêncio
Tudo era a cor e a presença.
O céu no momento em que dormias
Até chegar a altura das saudades
Adeus pequeno mar mistério de bolso
A cidade é o seu navegar de pedra
E os cansaços partem engelhados
Porque há uma hora final
E dizemos que isso é o mundo
E só mais uma cerveja
Não vale a pena mudar de assunto
Ou partir na obscuridade à procura de outro mundo
É este o resultado de ter olhado para o céu
Sim o poema é longo e não esquece
Só ele diz só ele espera
Com seu ar de última distância
Enquanto se rompem as linhas e as frações
Então uma noite desce mais fria do que é costume
A expressão arrefece no extremo oriente
E o mandamento no cansaço dos discursos
Ó quem viesse trazer outra vez o mar
E se encantasse do corpo jovem numa concha
Como a luz.
O poema acontece e tudo vale a pena
E no fim da hora quando as mesas se enchem
Fica só e triste a permanência
Aí podemos beber outra vez a luz
E perder a gramática
Sobre os corpos em festa e o desastre
Pode ser então que a madrugada os delírios
A decadência quente e sonora…
Pode ser
Com os seus desenhos regressados
Cheios de sal e de escabeche
De princípios e façanhas
E talvez um pouco mais…