03
Jun20
MÁRCIO LUÍS LIMA - "ARDE O TELHADO DO ENFORCADO"
Cospe nas mãos que leva à cara
com sangue contaminado, condenado
aos batuques de melros que bicam
as vidraças da janela alhures,
na cozinha.
O violino prossegue a parada pastosa
na sua harmonia de densidade
diabólica. O exilado arrebate
a ponta solta, atando um nó
nos telhados sulfúricos,
que ardem, amargamente.
Enforca-se no desespero da solitude,
amparando-se a chifres moles
na queda abismal, por entre o sistema
metafísico de verdades irredutíveis.
Adormece num cinzeiro barato,
entre beatas malogradas que se
amontoaram em ossadas nos jardins
de cinza, às sombras, onde o fósforo
gasta o tempo entre a madeira
e o resto.