“this mincing stalker who is weightless like his shadow”
                             – Charles Tomlinson, ‘Heron’, The Return, 1987.


Na ria formosa, longe,
parecia miragem:
uma vela branca
sem mastro nem proa
seguida por outras
(poucas)
esmiuçadas na paisagem:

Garça posando para o retrato
crendo que o garbo inflado do regaço
lhe disfarça
a magreza excessiva pernaltuda,
a saliência bicuda desastrada

nem modéstia nem fino trato
te valerão agora!
mas ao caminhar grado, suave,
deves o repasto —
o peixe distraído
que no instante acre
falhou tua sombra.

Ela
que olha em oblíquo
atenta, num semi-sono
astuto,
o som, seco murmúrio das canas,
o ventilar da corrente
num repente onda
num lampejo lama.

Garça que embala o momento
(haste de um lírio preso
suspenso nas águas)
ao pulsar dissonante da ria
acrescenta essa dança
de adiada paralisia:
um acontecer ignavo

pata que pende e pousa
no espaço perene de azul parado