18
Abr20
ADRIANO TAVARES DIAS - "CHEGOU O TEMPO..."
Chegou o tempo em que sorrir não mais alegra,
cansa.
Mas quem desfalece merece o opróbio,
Então continua-se sorrindo o suplício.
A noite só não basta,
máquina em Standby,
já que a horda de compromissos assalta até a pele dos pesadelos,
enquanto o flúor na água endurece a pineal para proteger os dentes,
as redes de wifi atravessam os crânios,
e a luz estroboscópica da corrente alternada frita seu espectro azul
como um permanente hospital. Ou sanatório:
um deserto sem noite.
Preciso do mar!
Caudaloso e manso mar...
Eu jangada e seu horizonte meu rumo ou companheiro caminhando ao lado.
Ali opera outra categoria de delírio,
Concluindo o serviço que o sono deixa ao meio,
Mas nem o mar mais há mais que o mediado pela tela de um aparelho:
- Ó mar de dados,
Quantos dos meus vícios
São seus algoritmos?
Sonhei um tropel (e não saia meu grito...)
Corria com todas as forças um desesperado passo lento
Metro a metro
A besta no encalço
E a matilha, o ladrão, a onda colossal
Que logo chega e me estraçalha.
Sabemos demais, agora, para a paz.
Por isso só eu esquecesse tudo e cortasse todos os fios.
Desconexo, talvez fosse expulso por essa estupidez à paz pássara,
Então teria o mar,
Mais nada.