04
Set20
ALBERTO AUGUSTO MIRANDA - DAI-ME UMA JOVEM ABÓBORA
Dai-me uma jovem abóbora
antes de se tornar calondro
com ela tratarei a próstata
sem limpar os cantos à casa
todos os cantos devem permanecer
seja em cabaça seja em terra,
em terra de antergo, terra de avóboras.
Torna-se a casa uma abóbada de abóboras,
bem melhor que a dos “ossos que aqui estamos”
e tu, ó recém, ó jovem, estás em pólen
de andrógino primitivo inspirando Homero
como metáfora exata do amplexo,
ó jovem, ó resistente à metamorfose.
A tua pele é casca grossa? Finas
são as cebolas em divã, e tu abóbora gentil não te partiste,
outros te partiram. Falo contigo mesmo sabendo que em ti nada
entra, mesmo sabendo que de ti nada sai. És a coerência contra
a corrência, tens sabido esconder-te da paleontologia
Assim contigo brinco, faço pequenos furos para o penduro
dos brincos, como se tal brincadeira fosse a única forma
de comunicação com as tuas sementes, invadindo-te a dignidade
cindindo-te em cinderela já sem infância ou sem pátria como
dizia o Rilke.
Dai-me uma Lou-Abóbora-Salomé, não em bandeja
mas em creme reticular, sem casa-minto
sob a égide de Ninkasi, muito amarelinha, sumerina deusa
da suspensão em jardins onde tu, jovem abóbora, estás interditada
pelas leis da gravidade. Ó jovem bordão, violoncelo
de outra escala, tambor sem reverberação,
porque escolheste a minha virilha para te infiltrares?