15
Ago18
ALBERTO LINS CALDAS - TOURADA
- a vida inteira ●
- do meu pai do meu avo e do resto ●
- aguardamos aqui depois da fazenda ●
- nesse caixão escuro q fede a esterco ●
- nas paredes a mijo de quem teve medo ●
- la fora urram esses macacos em festa ●
- cantam seus mugidos fracos e covardes ●
- enfim abrem o portão ●
- vejo a luz do sol a multidão em volta ●
- cavalos vestidos de centauras ●
- uma dama no centro de roupa bem justa ●
- brandindo uma capa vermelha todo serio ●
- sei num instante por um bailado da capa ●
- q ele deseja q seja ela q eu ataque ●
- sei q daqui não saio vivo ●
- como não voltaram nem meu pai nem avo ●
- mesmo os mais fortes amigos e irmãos ●
- vivemos num campo de exterminio ●
- cada um preparado sem saber pra essa hora ●
- a capa é so um artificio eu quero o corpo ●
- arrastado saiu morto mas ele morre antes
- porisso ando lento pra ele q sua e treme ●
- antes de girar sua capa meu chifre ●
- penetra pela arteria da coxa ao saco ●
- ratos ao redor gemem porq não sabem ●
- q podemos sair do campo pensar e matar ●
- com esse gosto de arte e vitoria na boca ●
- senhores de fantasia teatros de sombra ●
- morrerei aqui sem poder dizer isso ●
- cada um q descubra q os senhores ●
- são todos do estrume e do suor ●
- de todos nos serei arrastado ●
- mas ele morre ali pra todos verem ●
- q de vez em quando um de nos ve ●
- enquanto isso preciso matar cavalos ●
- palhaços pular na arquibancada ●
- estraçalhar os q sempre aplaudem ●
- antes q reunam suas armas e matem ●
- mais um q pensa q a saida disso tudo ●
- é o pensamento a violencia e a união ●
- mesmo q a vida seja uma boa merda ●