ALEXANDRE SARRAZOLA - KINDEREN DER ZEE
tinha chovido a tarde inteira e estirados no terraço do Grand Balcon Cafe Glacier
assistíamos em plano picado ao fumo de fogareiros e motorizadas que ascendia
lento da formatura dos toldos de campanha contra o céu platinado da Jemaa El Fna
numa sony black trinitron emprateleirada ao canto fomos sabendo do genocídio
do Rwanda, da morte de Kobain e do escândalo financeiro de Hosokawa
do lado do Hotel Belleville duas telefonias iam emitindo suras pela voz de um ancient
expostas num banco rodeado de cágados, avencas e camaleões quando te apareceu
Sant’Ana de capeline e uns chloe de lentes opalinas entre alguns garotos mendicantes
e três senegaleses que os esbofeteavam e nos serviam de guardas ao quelho do parking
do triumph spitfire arrumado à entrada da Medina, descemos nós para dar a propina
aos gendarmes e ela pairou com os fumos de anil e obsidiana para os lados da Koutoubia
a emudecer gnawa, encantadores de serpentes e a chusma de turistas que os emoldurava
de regresso ao Belleville subimos à açoteia a ouvir Allah ya moulana e a ver as silhuetas
dos gatos recortarem-se contra o clarão do foco recém atiçado no minarete vizinho,
pedindo mais gin, e em surdina rogando a Sant’Ana que nos viesse salvar um do outro