ALICE CAETANO - O FIM DOS LABIRINTOS
De repente, o chão da estrada ficou branco. Aquele chão, que separava as mulheres, do labirinto.
Nem as sombras, que habitualmente se desenhavam nos muros,
Nem o sangue dos pés caminhantes…. já nada disso restava.
De repente, o sol fez-se uma enorme labareda e o sacrifício foi engolido,
assim como o cansaço, as trevas, a garganta seca, a água de lavar os pratos… tinham desaparecido.
Um espanto!
Aquele chão da estrada, agora branco!!
Aquela estrada do muro do labirinto, agora aberta!!
Aquele tempo cinzento e doloroso, agora iluminado!!
De repente, as mulheres começaram a cantar canções alegres.
Pousaram as canastras com as peças metálicas e dançaram.
Já nem sequer eram mulheres, eram asas peneireiras dos bosques.
Pareciam pássaros enormes chegados do Princípio do Futuro com os machados de sílex, capazes de destruir todas as portas trancadas e todos os regulamentos injustos.
Aproximaram-se os curiosos, vieram os noticiosos e os mensageiros observar tamanha revolução alada.
- As mulheres desfizeram o labirinto! – dizia-se por todo o lado!
- As mulheres cortaram os cabelos e vestiram-se de vermelho! – ouvia-se no rádio.
- Que petulância! Que atrevimento! – vociferavam alguns, cheios de catarro.
Mas as mulheres continuaram, cada vez mais confiantes. Cada vez mais lindas! Porque os labirintos também se derrubam.