06
Abr21
AMÉRICO TEIXEIRA MOREIRA - VIAJAR
Partir para o horizonte como uma sonoridade no olhar
louco impulso, linha irreprimível no espasmo polifónico
apelo de deixar o lugar preso à magnitude da respiração.
Viajar como um rio evasivo, ir de um lado para o outro,
serpenteando como o cântico do rouxinol deslizante pelo silêncio
das colinas cintilantes da vida, imprevisto enigma das errâncias.
Viajar é ser muito, sendo uma parte, um hiato do mundo
sem nome, que nos afasta e contrafaz inversamente.
Partir, sem nunca regressar ao lugar das partidas ocasionais
é renascer em cada circulação da água giratória
quando a alma ainda crê que se volte algum dia.
Viajar é ir fartar os olhos, amando as suculentas coreografias
transcendentais que nos libertam do caos magnético
para subitamente nos encontrarmos num alongamento.
Viajar é sair, Como se fôssemos principiantes peregrinos
que voltam atrás por amor, na perdição do caminho inatingível
no resgate infatigável da alma presa às artérias fluidificadas.
Viajar é ter uma janela no esquecimento das memórias fendidas
seguir as constelações prometidas nas dissimetrias libertadoras
do incansável da vida.