21
Set18
ANA MAFALDA LEITE - ENTRAR NO POEMA
Ainda me ocorre pensar na glória de uma caixa inteira cheia de sons
na flauta de uma música interminável onde se esconde o poema
a voz indecifrável
Será que se eu procurar bem nos cantos da casa a encontro? Estará pousada em cima da minha secretária?
Ou dentro da minha boca procurando as sílabas exactas?
Sei que ando devorando sons sem sentido pastilhas de néon que se acendem quando penso em falar
devagar para ti
uma frase ou um verso indemonstrável
(mas acho que já não acredito no amor)
talvez fazendo equações no quadro, luzes imateriais no espírito, fogos sobrepostos
me assaltando a voz em línguas múltiplas
ou quem sabe? deve haver certamente
um portal
para entrar no poema
nesta minha voz que o procura
entre realidades paralelas