09
Out20
ANDREIA C. FARIA - "PRIMEIRO PELA FORÇA..."
Primeiro pela força,
pelo lume da respiração aprendo
o efeito do meu corpo entre mortais.
Escuto.
Sândalo,
saliva, a boca
seccionada, aberta, brutalmente
lírica, a luz
das coisas que se abatem como um sonho —
em que idioma digo
isto, e da manhã
a guelra fresca, a água
um braço repartido entre os lençóis.
A minha língua é o animal mais sujo,
o pássaro ralo da chuva,
o arrastar de fósforos na fala do profeta.
Como um clima,
tem seus trópicos, a sua crueldade,
trapos crus no deflagrar da boca
e a beleza
intercede pela violência como
o eco fala a Deus nas catedrais.
E se me vem às mãos é funda,
obscura,
um sono de sementes que apodrece.
E nada dela é puro —
respiram sobre a mesa os versos
com a faca na raiz, a ferida
chamando
a saliva, o desvelo do olhar.