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Ago19
ANNA APOLINÁRIO E FLORIANO MARTINS - AS SEREIAS DESFIAM O INFINITO CETIM DOS SONHOS
Elas dançam nuas, endiabradas e translúcidas,
feiticeiras tecendo seus mágicos vestidos.
No paraíso opalino de corais, enfeitam cabelos,
quadris e seios, com algas carnívoras coloridas.
As sereias mergulham no coração dos adormecidos.
Esfaqueiam o firmamento onírico, crime deslumbrante:
o céu ferido sangra suas mais furiosas safiras.
Elas brincam, repletas de ritmo, com um perfume
que rapta serpentes, enlaça os cipós da estrada
e as veias que traçam o destino de cada mistério.
A beberagem de seus olhos desvela o frenesi
da paisagem seduzida por algas e rios turvos.
Seus feitiços flutuam sob as águas, dissolvidos
em melodias arquitetadas pelas correntezas.
Escuto o nome de cada uma delas cobiçando
as sombras com que singramos tempo e vertigem.