Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

GAZETA DE POESIA INÉDITA

Espaço dedicado à divulgação de poesia original e inédita em língua portuguesa.

GAZETA DE POESIA INÉDITA

10
Jun20

ANTÓNIO AUGUSTO MENANO - OS TOUROS TRAZEM OS CORNOS A ARDER

1

Os touros trazem os cornos a arder,
Abrem caminho, o ar
Aquece-se, à espera;
Cerca-nos os desejos
O som, coro de mil silêncios.
Sobre as falésias vibram
Guturais apelos,
À espera de voarem.

Circula o arco lacado
De ressonâncias prestes a arremessarem,
Contra as muralhas,
O grito.

Os corpos, tensos,
Encolhem os músculos,
Talhas onde o vinho
Envelhece devagar,
São imagens ao cair do dia,
O sol ainda aquece o branco da cal.

Nêsperas amadurecem
Nos ramos retorcidos,
Há um vazio efémero,
Momento em que adormecem os desejos,
As dores, as mais voluptuosas sensações,
Frescas relvas a crescerem.

2

Sento-me debaixo de traves
Carcomidas pelos anos,
Polidas pelo vento,
Sonho com touros de cabeça de palha,
A arderem,
Iluminadas.
Serei viajante cansado,
No corpo
Prendem-se desejos,
Purpurinas carnais,
Setentrionais bússolas, avariadas pelos anos.

3

Os touros têm os cornos a arder,
Arremessam-se contra
A pedra,
Sangues calados, à espera de arbustos
Agitados pelo vento.
Frio, frondas de guerras esquecidas,
De dizeres ditos
Quando o dia esconde
A dor mais secreta
Que nos faz rir.

Quem de lado vê o horizonte confunde caminhos,
Recolhe seixos pela praia.
A boca come as palavras

Os touros trazem os cornos a arder,
Avançam pela noite,
Abrem o ar, o caminho aquece,
Cercam nos desejos,
O som rouco das gaivotas
Abrem caminhos.
Sobre a falésia vibram
Guturais apelos, animais
À espera de voos;
Circula o som, ressonâncias de lides
Antes da tempestade, prestes
A arremessarem os corpos
Contra as muralhas.

Os corpos, tensos, encolhem
Os músculos,
Talhas onde o vinho
Envelhece devagar.
Imagens ao cair do dia,
O sol aquece ainda
O branco da cal.

Nêsperas nos ramos retorcidos
Amadurecem.
Há um vazio, efémero momento
Em os desejos adormecem;
As dores,
As mais voluptuosas sensações
A crescerem.

Sento-me debaixo de traves
Carcomidas pelos anos,
Sonho com touros de cabeças a arderem,
Palhas iluminadas pelo fogo.
Serei viajante cansado a recordar Spartacus,
Os corpos bebem a música, grades prendem os desejos,
Purpurinas carnais,
Setentrionais bússolas
Avariadas pelos anos.

Quem de lado vê o horizonte
Confunde caminhos,
Recolhe seixos rolados
Na praia onde o chá arrefece.

4

Os touros têm os cornos a arder,
Arremessam-se contra a pedra,
Sangues calados, à espera
De arbustos agitados pelo vento frio,
Frondas de guerras esquecidas,
De dizeres ditos
Quando o dia esconde
A dor mais secreta,
Que nos faz rir.

A boca come as palavras,
No cerrar dos olhos.
No cerrar das pálpebras.



Senhora da Rocha, 29 de Março - Buarcos, 25 de Maio de 2009




Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2020
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2019
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2018
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D

Mais sobre mim