09
Ago19
BRUNO M. SILVA - INGEBORG BACHMANN
para o J. Carlos Teixeira
com o tempo o coração vai-se estreitando
e os homens já não passam
só pequenas coisas
um gesto repetido e gasto, um braço
acenando de Berlim até ao Porto
e que depois se despenha no mar
com o tempo o coração estreitando
sem que nos vissem a altas horas
agarrados à barriga, a um verso de Bachmann
porque é tudo a mesma coisa o meu
pé aquele cão o meu punho
o teu coração
a minha sombra alta o teu casaco azul
e uma cidade que nos olha incrédula
do alto de todas as horas