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Mai19
DANIEL DA ROCHA LEITE - HIDROGRAFIAS
do porto impossível
a tua palavra, margem miragem
inscreve a quilha da terra nas gengivas do rio
essa limalha dos teus lábios em minha língua
afundas, escavas as sombras, a contrafluxo
segues em meu sangue, atravessas e acendes
todas as palavras do meu corpo enquanto cantas
em silêncio com o teu corpo em silêncio com o meu corpo
enquanto os corpos queimam e esse céu submerso cintila
o livro dos teus lábios migra a fome de todos os silêncios
linguagem ilegível de um novo corpo que a tua saliva reescreve
suor sangue rasura erosão sêmen seiva signo mandíbulas, memória
o sumo que incorpora fluxo, contágio, fuso
a inundação invisível, essa língua à intradução
o amor
quando no óleo dos pedaços um corpo mútuo vibra.