Tenho ciúmes
dos bons tempos que já não guardo
e dos tempos que esqueço
e que guardo nos gestos

Afastem-me daqui o futuro
que eu vou a passar com o amor
Segurem-me a língua
senão eu rebento gaiolas

Dêem-me as flores em espalhafato
Um chorinho de mel
Um coro
de abraços pares

Que eu serei
Um aproveitador de dias felizes
Um organizador de constelações róseas
no meu próprio escuro
Um fazedor de versos
só pelo prazer do sangue do abstracto
Um balanceador parcial
de pesos luminosos
Um decisor de sonhos absolutos
Bailarino do medo de mim mesmo
com o amor à unidade de mim mesmo
Sinfónico de pequenos nadas
Um luxuoso
de invisíveis

Olha
olha em frente
vê como podemos
agora
todos
ser contentes

Que o passado 
terá ciúmes de mim
de não poder agora
ser assim