12
Fev20
EDUARDA CHIOTE - (SEM TÍTULO)
A "pele"de um urso polar negro
surge,
hibernando
à tona de água, da mesquinhês da cabeça
desfazendo-se nas patas sujas, pesadas e cinzentas .
Com efeito, constato, sou básica. é apenas
a " pele"- sempre a pele! - e, neste momento
a de um urso polar negro
o que vejo neste colossal destroço
limpo de órgãos: imaginando
que terá sido tal limpeza - a de nos recusarmos mentir
a nós mesmos, o que terá levado
a sua alma animal
a um afogamento de breu.
Terá sido, pois, no escuro do embate com as rochas
que duras águas terão esculpido
a arte de figurar o pesadelo
de uma cauda rígida: secreta e monstruosa. Decerto
para nos lembrar os fetiches e códigos
do destino fálico homem
incapaz de engravidar, de dar à luz
e que, por isso mesmo, parece ser a carcaça
de um barco à deriva
e sem remos - suspensa das entranhas vazias
que movem montanhas vagas e vagas de solitário gelo
Deus meu!
inédito de Kleckofrafia, conjunto de poemas inspirados nas placas do Rorschach