03
Jul19
EDUARDO LEAL - O POETA NA TV AO FIM DO DIA
ao Vitorino Nemésio:
“Cavalo e cavaleiro o vento adornam | Com uma pata e uma pluma;
| À tarde unidos tornam, | Um estame de sangue numa rosa de espuma.
| Tanta pressa, afinal, para coisa nenhuma.”
Vitorino Nemésio
se bem me lembro
era um mar revolto e havia bruma
era eu próprio cavalo e cavaleiro
e era em mim que se fazia o vento
era eu a espuma
na linha do horizonte um recorte
a ser visto por outro ou por ninguém
muita estória a galope, solta
“um estame de sangue numa rosa de espuma”
se bem me lembro havia o mar ao fundo
as patas firmes na linha precária do abismo
uma ideia vaga sobre o mundo
uma raiva surda sobre o correr dos dias
mau tempo no canal e a cabeça que se agita
e tu fugias, sacudindo a chuva
abandonando o corpo - o meu - que vacila e se debruça
em suma:
“tanta pressa afinal, para coisa nenhuma”
27-2-19