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Fev20
ERNESTO RODRIGUES - IGUALDADE
Um por cento de multimilionários detém
cinquenta por cento da riqueza mundial.
Não sei se, preocupados, dormem bem,
comem melhor, vivem mais: é-me igual.
Já não sou indiferente ao modo como
se ganha num segundo o que milhões não
vêem numa vida inteira – se a conclusão
for: quanto mais produzes, mais eu somo.
Isto, que chamam progresso, vai de mal
a pior. Basta que não se acredite no Além,
haja consciência de viver indigno, e pouco vale
ter guardas, exércitos: avalancha humana sem
controlo vai despedaçar, suja, triste, gomo
a gomo, a dourada ilusão. E, face a estatística tão
neutra, ainda se fala de um mundo são,
olhos fechando àquilo que, violento, de ti tomo.
Venha essa hora de terreno juízo final.
Ardam palácios de vaidade de quem
Deus se julga. Que a morte seja o menor mal
do ouro cego, sem valer um vintém.