01
Ago20
FERNANDO AGUIAR - QUE ASSIM SEJA
Que se trame o trauma.
Que se rache a racha.
Que a luz apenas reluza
no material da matéria.
Na adversidade do adverso
onde se encaixa o cosmos.
Ou na versatilidade do verso
em que se palavreia a palavra.
Que se abandone o abandono.
Que menos por mais seja o sinal.
Que a coisa se coisifique
e se cruxifiquem as crises.
Que se envolva sem rodeios.
Que se assuma o somenos.
Que a contradição se contradiga
e se silencie entre o silêncio.
Que retorne o rumor da fonética.
Que o som sonorize o espaço.
Que o sistema se sistematize
e o advento se entrelace.
Que a evidência se evidencie.
Que a pressa se apresse.
Que o signo se ressignifique
e se reveja no significado.
Que a demonstração se comprove.
Que o sobressalto sobressaia.
Que o adiantado se antecipe
e se instigue a sã estimulação.
Que a tarefa se afadigue.
Que a condição se condicione.
Que o sacrifício se sacrifique
e o processamento entre em processo.
Que a atitude se assevere
e o desejo retorne ensejo.
O estímulo sofra um impulso
e se conserte a conjuntura.
Que o bloqueio se situacione.
Que o requisito não recuse.
Que o contexto se contextualize
e na circunstância se distancie.
Que a espécie se especifique.
Que a ordem se desordene.
O efémero se torne perene
e o término se determine.
Que a situação não sofra recuo.
Que o olhar seja transparente.
Que o género se generalize
e o final nunca prescreva.