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Nov20
FERNANDO ESTEVES PINTO - [SEM TÍTULO]
1.
Talvez a tua vida seja um exercício evocativo
um estado de paz e conhecimento
à procura de uma luz superior ao espírito.
Todos os dias a tua cabeça afunda-se
para tocar a vida mais pura
e o que escreves é um sopro irrespirável
– súbito pensamento em suspensão
que o silêncio acolhe na sua clareira obscura.
Pensamentos que não perdoam nenhuma palavra
que não seja lúcida e clarão humano
e edificando a obra digna
se apoderam dos enigmas do mundo.
2.
Sabes que o espírito enlouquece na tua intimidade
e revela instrumentos de poderosas dúvidas.
Sabes que os teus pensamentos
se transfiguram em cada palavra
e afastas as sombras que florescem na tua mente expansiva.
A insuportável pedra pousada sobre a tua serenidade
vingativa e invasora
símbolo e semente tenebrosa da criação.
Às vezes escreves e inundas-te todo de lume
iluminando as tuas histórias antigas
os caminhos que te procuram
as inspirações impuras.
A imprevista loucura entre uma iluminação
e a matéria alucinada.
Agora qualquer silêncio imaturo é cheio de solidão.
Pequenas infâncias que fendem a tua vida.
3.
É este o deslumbramento:
um espelho faminto na tua inocência
uma imagem áspera e vertiginosa
que ascende às névoas na tua cabeça.
E a tua casa é um teatro de invenções
e sobressaltos fecundos.
Pensamentos que te prendem cegamente
numa conspiração vertiginosa.
Alimentas uma vastidão de sentidos magníficos
perpetuamente transfigurados em histórias vivas
e imortais como uma luz irremovível na tua fantasia.
Como uma escada que subisses
universal e infinita.