FERNANDO GRADE - EM BRAGA: FOLES E CIGARROS
Prosopoema de FERNANDO GRADE
O uso sangrento desbasta a consistência dos
objectos. Disse, e reforço. E, mais uma vez, a história
passava-se em Braga. Eu camuflava o medo ao pé da
raiva. Ambos os modos são carniceiros.
Muitas pegadas no sangue ou na cal dos muros.
As mãos limpas precisam de ti, Cláudia Berta. Não
fumes tantas ideias velhas. Abandona, também, os
numerosos cigarros. Deves ser mais leal com tua prima
Berta Cláudia. Claro: os vidros coloridos caíram no chão.
Eu não fui… Não lhes dei qualquer vergastada ou pon-
tapé.
Não escondo: o medo que me persegue um
dia será meu aliado. A zona do rosto é a área da
cara. O medo vai casar-se contigo, lindíssima Es-
ter. Mas o medo jamais repete; é cobarde.
E o passado afim? Passado com erros não
sabe a uvas raras, cheira a porcos segredos. Não
volto? Ah nunca voltarei? Esqueçam. Esqueço-me.
No fundo, isto da Europa Cagopa interessa muito
pouco. Os sinais mostram-se bem. Carne sanguínea.
O sangue das flores e plantas escorre bastante
por entre os dedos d’alguém. Os factos mordentes são
os factos mordentes.
Os últimos olhos que te viram, Berta Cláudia, foram e
querem continuar a ser perfeitos objectos de traição. Volta-
remos ao ódio, esse bicho viscoso?
Todos os gestos ingénuos são perfume. Os bons tiques
têm asas para pensar. Os remorsos recomeçam o caminho,
reconstroem-no, tão limpos e violentos, tão sóbrios como
um pacato e bucólico bule britânico.
O bosque de núpcias ataca quem ataca. As mãos (sem-
pre a fazerem de ganchos…) manipulam a puíta, fazem sugestões e arremessam ordens aos respectivos tocadores.
Nos braços e rosto, esfuma-se a música.
Dia Mundial da
Tartaruga. Carcavelos.
- Maio. 2019