01
Ago18
FILOMENA FONSECA - TEMPO DOS RELÓGIOS
Gosto de relógios antigos. Dos de parede.
Os que guardam o velho tempo e nos iludem.
Conheço alguns que se atrevem a cantar de cuco. Outros,
de religiosas manias, preferem clamar em ave-marias.
Gosto dos que só exibem os planos do tempo. Aqueles
que assistem a tudo e nunca se manifestam.
Os que estão parados, silenciosos e desligados.
Pendurados, só para sabermos que estão lá.
E tal como os outros, são completos,
de ponteiros e horas nos sítios certos.
Ah! Como gosto desses relógios. Cada vez que neles
fixo o olhar, aquela boa sensação que o tempo parou
ali mesmo, sem sede, bem aconchegado à parede.
Dizem que no passado era o cantar do galo…
Agora descobri o tempo todo na minha cabeça,
só preciso saber aproveitá-lo.