03
Ago20
HELENA COSTA CARVALHO - UM FÓSFORO ENTRE OS DENTES
Vês agora?
era preciso uma orfandade lírica que
nos levantasse ao menos resumidamente
um ofício novo de cabeça pendurada meio-dia afora
mão talhante sobre a brasa
ainda que a pergunta pelo ar
ao menos a rouquidão a praga da época
uma pandemia de gente afónica a legendar o século
silêncio e mais silêncio
onde a palavra alardeava o clã
caruma nova para o grande incêndio
poemas pastos mezinhas de cabeceira
prefácios a gosto e a contragosto
(e o gosto que logo azeda)
mas pergunte-se primeiro à menina ínfima
benigna faca entre os dentes ainda leite
pelo fósforo que roubou no final da festa