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GAZETA DE POESIA INÉDITA

Espaço dedicado à divulgação de poesia original e inédita em língua portuguesa.

GAZETA DE POESIA INÉDITA

11
Abr20

ISMAR TIRELLI NETO - O GRANDE ALIÁS

 

 

            A estrada serpeia: Sara põe na relva rasa do pensamento uma serpente para espreitá-la. Tudo decorre rasteiro de um filme de um livro de uma canção; decorrentes, por seu turno, do liso texto da vida. Isto dá voltas.

Ela dá voltas, o deserto dá voltas, incapaz como Sara de resistir à tentação de concluir.

 Conclua você esta Sara, mãos firmadas nas escamas do volante, pés de Paula batendo recado de impaciência no piso encardido, os dentes de Mirta batendo de frio por todo o trajeto de volta para casa.

Ao cabo da apresentação, no sobressalto dos lustres, Nina começa a aplaudir, aparteia ao Paulo: “a bailarina se movia mesmo feito cobra”. Impressionante. Ninguém espera por ninguém. Todos metidos com alguma espécie de perseguição. Ninguém espera por ninguém, grita, Eco subindo a espiral do edifício. Ninguém é retomado.

O mundo, arredonda Paulo, que é o mundo senão uma interminável fieira de antessalas? E Luiza, acesa pela luz da cozinha, põe-se na fresta de braços cruzados e indaga, lixadora: “que faz o senhor parado aí a esta hora?”. O mundo, Paulo arredonda,

Nada, não se preocupe, mas a verdade é que a banalidade de Luiza o horroriza, assim a banalidade de Luiz, interpolação tardia em seu repouso. Luiz que dorme tranquilo, pode-se dizer “em linha reta”. Acorda, lava-se, tem lá sua pequena emoção ao ouvir no rádio do carro certa balada poeirenta, I’ve been to the desert on a horse with no name.

Rasteja esta emoção - a poeira lançada pela balada sobre este mundo, o único, desgraçadamente o único, único inimigo do único - até o escritório. Cumprimenta a todos, reata sentar-se ao lado do Paulo, reatam o dia anterior. Paulo começa a tatear o tampo de sua mesa, não encontra o alarme.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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