08
Jun20
JOAQUIM SAIAL - O FUZILADO NUMÉRICO
Contava tudo, tudo, tudo!
Contou os dias que faltavam para o término da pena
e em cada um rezou uma novena.
Contou as grades da janela
e as formigas que o visitaram na cela.
Contou os ratos que também ali moravam
e os guardas que o guardavam.
Contou as horas e minutos do último dia,
prevendo quando morreria.
Contou o grupo de 12 hirtos soldados
e os fuzis para si apontados.
Recusou a venda nos olhos
e na hora da ordem de disparar
quis contar as balas
que o iam matar.
«Uma, d…», foi o que conseguiu dizer,
falhando a amada aritmética
na última contagem feita,
da sua vida patética.