25
Fev19
JORGE ELIAS NETO - Marco ZERO
Avançamos desgarrados
neste Tempo tardio.
A partir daqui,
se inicia o reino das ostras
e dos desencantados.
Recolhamos a vela
- sudário santo -
que há de ser lenço
e manto aos que choram
e perecem sobre as rochas.
Somos a sobra
do que tentamos ser,
escambo entre a imensa
ousadia e a boca dos Oceanos.
Mares singramos,
cerzindo rotas,
fomentando esperança,
e, no entanto,
permaneceu o segredo
das tempestades.
As palavras náufragas,
a insônia nas gáveas,
a ironia da língua pátria
a chamar de quilha
o que sustenta a nau
e a placidez das asas
das gaivotas
Desanoitece,
Resta o sereno
- saudade da noite.
Sobrevivemos aos infortúnios
da consciência, a gema
celeste descarrega
em cada dorso o calor
célere da descrença.
Aprendemos que a maçã
roubada foi a máxima fuga
e que nos resta a paz
da tormentosa arrelia.