25
Nov20
LÍDIA BORGES - TERRA
I
Uma janela ampla
um tremular de folhas rubras
nos braços hirtos do ácer,
as derradeiras,
vermelho polido
a fender a friagem da chuva.
Cruzam o ar
líquidas lembranças:
ó fontes da minha terra
que me vindes agora falar,
que me entoais o instante
nesta linguagem
de barcos em que mareio
e tudo entendo,
estrangeira que sou aqui.
Paisagem de cinza, estática
anterior à branquidão da neve.
Somente a voz mais íntima da terra
é viagem.
II
Passa pulsando
como sangue nas veias.
Seja onde for
aqui ou em outro qualquer lugar
é uma, una e a mesma terra
sempre que alguém se detém
a escutá-la,
a ler-lhe o coração de raízes e brados,
a alma de ventos e sal.
A lê-la piamente
como a um poema
antes da intromissão caótica
das palavras.
Lídia Borges, (Fredrikstad 2020)