LAÍS ARARUNA DE AQUINO - INDIVÍDUO Nº 4 (ou ESTA BRUTA NECESSIDADE DE SER)
falas
e sobre a tua boca desabam as estrelas
aos teus pés
o mar despeja a língua fria e tumular,
anulando-te na vastidão impassível
quando vier o crepúsculo, teus olhos não penetrarão
o estandarte vermelho
e te sentirás presa de alguma coisa inexistente
onde estás, o espaço restou vazio
as palavras esfacelaram sob a ordem do ar
gostarias de gritar e afirmar a tua recusa
mas as gradações do verde e do azul
não precisam de ti
configuras uma mancha cheia de desejo na paisagem
na tua privação, pulsa
esta bruta necessidade de ser
mas como poderias tu ser possível,
ao vento, à canção ininterrupta das águas do mar
contra as rochas da praia?