16
Fev20
LEONARDO ALMEIDA FILHO - BRUXAS E FADAS
Houve um tempo
em que eu cria em fadas,
e, só por crer, havia.
Temia as bruxas
e seus dentes de dragão.
Era sempre manhã
naquele tempo
de fadas e de bruxas.
Tempo de romãs maduras
e carinhos tépidos.
Ah, tempo de beijos
como pitangas se abrindo de maduras.
Cães emplumados gorjeavam
sobre palmeiras selvagens
abanando suas caudas coloridas.
Havia sol em cada gota
de chuva, de orvalho e de suor.
Eram tempos de sorrisos largos,
abraços longos
e a esperança brincava em cada porta.
Os olhos se vestiram de escuridão
- vertendo noites intermináveis -
e os corações, de pedra,
espargiram mau cheiro
e desânimo.
Agora é sempre noite
mesmo quando dia.
Cada fada degolada em cerol
apodreceu no esgoto
a céu aberto.
As bruxas se esconderam
no espaço entre
o fora e o dentro
ali, na greta escura
que pulsa, fétida,
no limiar da vigília
um pouco antes do pesadelo
e do abismo do sono profundo
Com seus dentes de dragão à mostra
sempre voltam
mas as fadas, não.