04
Set19
LEONTINO FILHO - PASÁRGADA
distante pasárgada
que o meu olhar
não captura no espelho
convexo da palavra
distante pasárgada
que o meu desejo
nem imagina na página
distraída do texto
distante pasárgada
que a minha dúvida
tampouco sinaliza no deserto
confuso das musas
distante pasárgada
que o meu coração
apenas atravessa na madrugada
sã das demências
aura perfeita
pasárgada começa
adolescência à flor da pele
graça que não pede licenças
: pára-quedas
em pouso
que fazer?
pasárgada nem mais nem menos
história
dalgum beco
que a gente cultiva
no sentido ingrato
da memória
distante pasárgada
livro do tempo
e da dor que experimentei
lembra de mim
quando a chuva
hesitante e preguiçosa
fizer morada na derradeira bica
do pensar
lembra de mim
quando a boemia
do vento mirar o mar
e dormir na infância ininterrupta
das idades
pasárgada, de tanto querer
ando, só, assim, sozinho
a distância entre nós
não mais existe
quando querendo crer
já caminho pela rota
que nos traz a poesia
pasárgada
o dia em que te vi
(de manhãzinha)
já era outro
não mais distante de mim