01
Jan19
LISA ALVES - IGUAL VER 1964 EM 2019
“Eu voltei”
a voz ecoava na cabeça
a voz saía de dentro da mão
a voz percorria a barriga
e habitava os meus ossos.
Milhares de vozes
transitavam a pele.
Como silenciar o corpo?
“Eu voltei”
a voz ecoava nas cadeiras
a voz surgia de um cômodo para o outro
a voz percorria todas as paredes
e se alimentava de rachaduras e cupins.
Como silenciar a casa?
Alguém tinha voltado
alguém que eu não sabia quem
gritava de dentro do guarda-roupa
sussurrava pelos canos do banheiro
e no ranger das portas dizia palavras antigas.
“Eu voltei”
parecia refrão de música
disco arranhado
uma vida em loop
igual ver 1964 em 2019.