06
Ago19
LUÍS COSTA - PAIXÃO
Morreste mas não morreste de todo
a boca ficou-te ao cimo da água
morena e gotejante
sei deveras que estás morto
mas estás vivo dentro da tua morte
és como o homem que passeia por sobre as águas
com peixes nas mãos acesas
candeias que deixam ver o adro negro
das palavras
morreste e sinto a tua morte viva
nas cadências do meu choro
quando ajoelhada perante o teu cadáver
amo-te!
amo-te!
como um cordão umbilical
a missiva da paixão dura no sangue ameno
e o meu sexo abre-se orvalhante
ao meio das noites
sob sumptuosos lençóis vive nele
torrencial
a tua morte.