01
Set20
m. parissy - A ENCHENTE DA CIDADE DA ÁGUA
com o Nuno Rebocho em Moura, 2002
Um pássaro reza frente ao rio Ardila.
O grande olho da noite
surge por entre quem sobrevive à enchente.
A água regenera o solo
como a ferida de um gato.
Queimado pelo ar
o pescador confessa que a água embebeda.
A paisagem púrpura
trabalha ao longo dos dias
para que o ofício de incêndio seja reluzente.
Há uma relação demorada
entre o aparelho da terra
e a nascente das águas.
É um conjunto que tolda madeira, sangrando.
A grande maioria das constelações são escarlates
têm uma força maior
enriquecem o pavor
de todas as coisas terrestres.
A carne sendo única
contrasta com os anéis do abismo.
E a terra, por fim
perde a inocência
quando se criam palavras
e se ouvem nos campos a caminho de Moura.
Sacrificando-se perante a loucura
do clarão que inunda.