18
Mar21
MARIA BRANT - NOÉMA ESPERA O DILÚVIO
Percorrer passo a passo
as câmaras e antecâmaras,
varrer cada canto,
esfregar o chão.
Distribuir com parcimônia
o trigo, a faia, o feno.
Escovar os pêlos,
catar as penas.
Subir ao convés,
dispor em fileiras
os tomates e figos.
Gravar no olho
o branco
do jasmim
sobre o branco
do muro,
a sombra da oliveira
sobre o líquen da rocha.
Ao anoitecer,
trocar a água,
fechar as janelas,
e com a canção antiga
aquietar os grasnos,
latidos, arrulhos.
Pelas risadas
que entram de fora,
guiar-se até as frestas.
Cobri-las de betume.