MARIA QUINTANS - POEMA O.R.
Algures na parede do meu corpo
feito quarto.
Olga Roriz
I
para que me mates canto-te
e num qualquer dia um pulso muito quente há-de arder em febre o teu delírio
digo:
que te ampare em sono o dorso da chuva que te ampare em gato o silêncio dos poetas que te ampare em árvore todo o corpo e que todos os mortos se levantem a meio da noite e se ajoelhem em tudo o que te alimenta
II
digo:
a todos os pássaros arrancas as asas e acrescentas um braço uma claridade única e um nó de pernas oceânicas até à fêmea do teu corpo
a todas as crateras suspensas entre a quieta provocação de um grito imenso amarras o pulmão até ao rebentar da veia
a todos os afogados arrancas a sombra e enches de água a boca do desejo
III
digo:
és a seta em cheio no coração da noite.
a vertigem íntima onde a sede é possível. tudo a descoberto nos dedos da estrada.
IV
disse.
Maria Quintans _ Novembro 2018