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Ago18
NUNO RAU - NOTA MARGINAL 95.
A síntese de sua vida
é um móbile, décadas
perdidas dançam suspensas
muitas voltas sem sentido
e cada uma é um buraco
negro, matéria
concentrada, memória feita
precipício, espelho fosco, oráculo
que nada revela,
e dia após dia você raspa
com as unhas (quando
se debate) o cal
das paredes, nas horas
livres da catalepsia que nos cabe
a cada passo, pensando
ser aquele resíduo
branco o nitrato
que disfarça vidros
em espelhos e querendo amalgamar
com sua prata a bala
que lhe atravessasse
o peito, enquanto as décadas exibem
transparências que você forjou
sangrando os dedos, no escuro
de mais uma noite absurda
num século vomitado
pelos outros
- memória é sempre um lugar de coisas mortas.
Este poema pertence ao livro Notas Marginais, inédito.