PAULO DA COSTA DOMINGOS - 21 DE MARÇO DE 2020: DIA MUNDIAL DA POESIA?!...
A sociedade do sofá em frente do aparelho de televisão, a sociedade do computador portátil em cima dos joelhos, a sociedade invasiva dos lares expostos através da rede na internet, a sociedade do telemóvel colado ao ouvido, a sociedade da localização individual via satélite, tornou-se um imperativo totalitário global, um túnel negro de via única e sem contraditório.
A sociedade do medo sem rosto, ditando as suas ordens mediante governantes igualmente vitimados, fabricará, em seu favor, ondas sucessivas de renovadas infecções, até as economias em geral e os recursos individuais ficarem exangues, cingindo a diferenciação e a hierarquização sociais aos escassos que mandam sobre a multidão sitiada dos que obedecem.
A este nível de aprisionamento, em que se é obrigado por lei à associabilidade, ficámos todos expostos à contaminação ideológica oficial, expostos à aceitação passiva de ordens para a imobilidade e para a paz social, expostos ao discurso de partido único – no sentido em que todos os partidos «da governação» se acantonaram no grande consenso salvífico: a saúde individual, ao brotar como o exclusivo traço de união da horda humana, torna-nos, todos, crentes numa salvação promovida pela nova ordem médica.
É-nos, assim, sugerida uma vigilância bairrista intervizinhos e intrafamília. É-nos, até, ditada a contenção amorosa, esmagando, pelo medo, a ternura e a componente física dos laços familiares.
Debaixo de uma tal experimentação cibernética, após meses (e serão somente meses?...) de subjugação à aceitação «voluntária» de uma tal disciplina e ao condicionamento psicológico a novos hábitos, será o mundo em que vivíamos apenas uma lembrança nostálgica, um recuerdo de anacrónica viagem turística.